O meu pai sempre cumprimentou as pessoas desta forma:
– ” José seu criado!”
Vindo de um negro, subentende: o serviçal, o mandato, o subserviente, o que esta abaixo como escravo.
Essa palavra chegou a dar nome a um móvel, o criado-mudo. Ele foi inventado na Inglaterra; era uma mesinha onde se colocavam os materiais para o chá, dispensando a presença da criadagem que fatalmente acabava se inteirando das situações escabrosas da família.
Então resolvi ser diferente, passando a pronunciar o meu nome num tom coloquial e firme de sucesso
– ” José Freitas!” E nada de beijar a mão, de quem quer que seja.
Mas parece uma coisa, no que queremos menos parecer com nossos pais, é onde mais nós parecemos.
Eu acabei sim, usando o termo:
– ” Eu estou aqui para te servir!”
E acabo servindo bem as pessoas, faço com que as pessoas ao meu redor tenham um bom tempo.
Eu não queria. Mas acabaram me convencendo a me candidatar a um cargo público.
E hoje sou vereador na cidade do Rio de Janeiro
De certa forma graças ao meu linguajar.
Eu acabei transformando o que para mim era veneno, em meu atual remédio.
E você, qual é o seu veneno do passado que você transformou em remédio?